Nicho de mercado cresce e expande fronteiras do jornalismo
produzido no RS
Não são poucos os segmentos de mercado que precisaram se reinventar para sobreviver em uma era de constante transformação digital. E, sem dúvida, um dos setores mais impactados por esses avanços é o da comunicação, especialmente o jornalismo. Novas plataformas de mídia surgiram e as formas como nos relacionamos mudaram; enquanto isso, o espaço da imprensa tradicional foi diminuindo e os postos de trabalho nas redações tradicionais, também perderam espaço.
Isso não significa, porém, que esse mercado esteja à beira da extinção. No Rio Grande do Sul, as agências de conteúdo se tornaram uma alternativa para jornalistas que querem continuar fazendo reportagens, mas preferem gerenciar sua rotina sem vínculo com empresas tradicionais, e sim com clientes.
São profissionais experientes, com passagens por grandes veículos de comunicação, que, tendo espírito empreendedor, viram na crise uma oportunidade de valorizar seu trabalho, oferecendo a jornais, revistas e sites um conteúdo que estes, em tempos de enxugamento na folha salarial, teriam maior diiculdade de produzir. Aos poucos, o Estado se consolidou como referência na área, com reportagens produzidas aqui sendo publicadas em veículos de expressão nacional e internacional.
Essa migração dos jornalistas – e do próprio conteúdo jornalístico – para as agências se deu de forma gradual, como observa a coordenadora do curso de Comunicação Empresarial da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), Denise Pagnussat. “Não é um fenômeno exatamente recente. Há cada vez mais possibilidades de atuação na área, e essa é uma das que vêm ganhando espaço já há alguns anos. Mas não vejo como uma espécie de mercado concorrente ao da mídia tradicional, que permanece sendo relevante. São atividades diferentes e, ao mesmo tempo, complementares”, pondera.
Ela alerta, no entanto, para a necessidade qualificação. “Hoje a comunicação se dá em várias plataformas. Ter um conhecimento multidisciplinar é fundamental para o jornalista, ainda mais para trabalhar com agências de conteúdo. Esse conhecimento é que vai possibilitar aos profissionais atenderem às demandas de diferentes clientes”, ressalta a professora.
Professor de Jornalismo e pesquisador no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Marcelo Träsel acredita que uma série de fatores motivou a criação de agências focadas nesse tipo de conteúdo. Além de mais autonomia para realizar suas atividades, os jornalistas com esse peril também buscam uma mudança de ambiente e de rotina.
“São profissionais que saíram das redações com o objetivo de encontrar melhores condições de trabalho. Não queriam mais fazer plantão no final de semana e esperavam uma remuneração melhor. No fim das contas, se criou um ecossistema que beneficia todo mundo, já que esses veículos mais tradicionais podem se valer do serviço das agências quando precisam de um reforço na mão de obra para alguma cobertura especial”, afirma.
Um dos fundadores da Cartola Conteúdo, o jornalista Sebastião Ribeiro lembra que quando a agência surgiu, em 2009, o enxugamento das redações já se mostrava uma tendência. “O modelo de negócio tradicional, de ter uma equipe 100% própria, parou de fazer sentido para os veículos na medida em que começou a deixar de ser viável financeiramente. Fomos uma das primeiras agências a oferecer esse tipo de conteúdo, então prestamos serviços para muitos veículos”, diz.
Fundadora da Fronteira, Sílvia Lisboa avalia que os jornais foram muito impactados pela redução das verbas de publicidade, cuja consequência imediata foi o corte de pessoal. “Com a perda de anunciantes, não era mais vantajoso para as empresas ter uma redação grande, e as vagas formais com CLT, aos poucos, foram minguando. Ao mesmo tempo, os veículos ainda precisavam de conteúdo, de reportagens aprofundadas, que não podiam ser feitas por uma equipe reduzida. É aí que nos inserimos”, observa a jornalista.
FONTE: Jornal do Comércio – Porto Alegre